O Parque Capivari, no centro de Campos do Jordão, tornou-se o ponto de encontro dos apreciadores da música clássica neste sábado (1º), marcando o início do Festival de Inverno, já uma tradição no município nas últimas décadas. Desta vez, o festival está sendo realizado gratuitamente.
O público lotou o espaço durante a primeira apresentação da 53ª edição do evento, que contou com a performance da USP Filarmônica. Crianças, jovens, adultos e idosos ocuparam as cadeiras, bancos e até mesmo o chão do parque para desfrutar da programação.
O acesso à música clássica para um público mais diverso possível é um dos motivos pelos quais o festival ganhou a dimensão de maior da América Latina dedicado à música erudita. A abertura oficial aconteceu mais tarde, às 20h30, no auditório Cláudio Santoro. O auditório também ficou cheio para a apresentação da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) ao lado do pianista inglês Stephen Houch.
Durante a abertura, a Secretária de Cultura, Economia e Indústria Criativas, Marília Marton, destacou a potência formadora e transformadora de vidas do festival, além da parceria entre a pasta e as Organizações Sociais, por meio de parcerias público-privadas.
“Esse trabalho conjunto é fundamental para que possamos entregar um equipamento e um programa de tão alta qualidade”, declarou. A expectativa é que os outros dias do festival repitam o feito, e cerca de 80 mil pessoas prestigiem os 63 concertos que ajudam a movimentar a cidade e fomentar cultura e turismo.
Como o festival cresceu e se tornou referência
Segundo o diretor-executivo da Osesp, Marcelo Lopes, o festival se tornou referência por alguns fatores. Um deles está ligado à sua concepção.
“Ele foi inspirado no Festival de Tanglewood, de Boston, que tem a finalidade de ser um lugar de convivência entre músicos experientes e jovens. Esse modelo foi trazido ao Brasil nos anos 1960 pelo mestre Eliezer de Carvalho. A partir de então, o festival se desenvolveu. Talento nunca faltou, mas faltava oportunidade de estrutura e consistência no trabalho. Depois de cinco décadas neste estado que valoriza a arte, os resultados aconteceram: um trabalho consistente, contínuo e de qualidade”.
Conforme o festival se consolidava, ele passou também a ser uma vitrine para os músicos, conta Lopes. Por isso, grandes orquestras, filarmônicas e quartetos de todo o Brasil passaram a querer estar no palco de Campos também, o que gerou um efeito de retroalimentação: quanto mais bons músicos se apresentavam, mais bons músicos queriam se apresentar, o que aumentou o nível dos concertos e a visibilidade do evento para todos os estados.
“Nesta edição, teremos as filarmônicas de Minas Gerais e Goiás, que são espetaculares, a Camerata Antiqua de Curitiba a Sinfônica do Theatro Municipal, regida por um músico que também começou aqui”, conta Lopes.
Além disso, por estar em uma cidade extremamente turística em seu mês mais movimentado, o festival funciona como uma iniciação do público à música clássica, além de ter uma rotatividade grande de pessoas assistindo e indicando para amigos e familiares, explica o diretor.
Vitrine, berço e escola de talentos
Um dos fatores que ajudou o festival a ganhar essa importância para a cultura do Estado e do Brasil é o braço pedagógico que ele oferece para jovens estudantes de música, afirma Lopes. Hoje diretor-executivo da Fundação Osesp, Lopes começou a carreira neste festival, em 1984, aos 16 anos, como um jovem trompetista.
“A razão do nascimento desse festival é o treinamento de músicos clássicos para a vida profissional. É o meu caso, do Fábio Zanon [coordenador artístico], e de tantos outros. O festival me deu a chance de ter uma carreira e servir a música em várias competências como músico, músico da Osesp, diretor do festival e diretor da Osesp. E tenho certeza que aqui nascerão outros artistas que nos honrarão”, contou.
Neste ano, mais de uma centena de jovens terão oportunidade de se desenvolver durante o projeto. “135 alunos vão passar o mês de julho em um imersão de música, com 42 professores fazendo o trabalho de tutoria”, explicou Marton. Os bolsistas terão duas semanas de prática orquestral e duas de música de câmara com os grupos britânicos Brodsky Quartet e o quinteto de sopros London Winds.
Participações internacionais
O pianista britânico Sir Stephen Hough foi o convidado da noite da Osesp, simbolizando outros músicos internacionais que se apresentarão ao longo do mês. Hough estava empolgado por tocar pela primeira vez , ao lado de músicos que ele admira muito e com um repertório que considera essencial para introduzir o grande público à música erudita.
“Tocamos aqui um dos concertos de piano mais populares do gênero e fiquei feliz por esta ter sido a estreia neste festival que eu admiro há algum tempo, mas só agora participei. Agora, sigo com a Osesp para outros 12 concertos em quatro semanas, com alguns desafios e novos repertórios”, conta. Houch se refere ao Concerto nº 2 para Piano em dó menor, Op.18, do russo Sergei Rachmaninoff.
O Festival de Inverno de Campos do Jordão acontece de 1º a 30 de julho. O evento é promovido pela Fundação Osesp, pela Prefeitura de Campos do Jordão e pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas.