Empregando os critérios atualmente propostos pela literatura científica sobre o tema, estima-se que a prevalência de diabetes mellitus gestacional no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil seja de aproximadamente 18%. Tendo em vista o alto índice de casos no país, a médica obstetra, com mais de 20 anos de experiência profissional, dra. Bruna Pitaluga alerta para a importância de diagnosticar precocemente a doença.
Os riscos inerentes à condição também reforçam a importância do diagnóstico precoce. Dra. Bruna ressalta que a hiperglicemia, que caracteriza o diabetes mellitus, não é um cenário favorável para o neurodesenvolvimento do feto, já que o cérebro fetal é extremamente sensível ao excesso de glicose. De fato, o excesso de glicose pode influenciar todas as funções metabólicas do feto.
Para o diagnóstico precoce do diabetes mellitus gestacional recomenda-se o teste de tolerância à glicose, que é realizado no terceiro trimestre da gravidez. Neste sentido, segundo a médica obstetra, para que exista um controle glicêmico adequado da gestante, faz-se necessário o acompanhamento pré-natal por um profissional de saúde que compreenda os conceitos fisiológicos da gestação.
Isto porque, explica dra. Bruna, o profissional precisa estar ciente de que do ponto de vista do metabolismo glicêmico há três momentos distintos durante a gestação, que equivalem ao primeiro, segundo e terceiro semestres. “No primeiro e no segundo trimestres o metabolismo materno se prepara para a demanda metabólica do terceiro trimestre. “Nestes períodos, a glicemia é utilizada pelo corpo da mãe, sem passar para o feto, já que ainda não foi iniciado o momento de hipertrofia”, diz.
A hipertrofia fetal, por sua vez, relata a médica obstetra, inicia-se a partir de 24 a 28 semanas (terceiro trimestre de gestação), justamente quando há necessidade de a gestante realizar o teste de tolerância oral à glicose. “Durante esse período a placenta modifica o transporte de glicose e, assim, começa a facilitar sua passagem ao feto”, comenta.
Dra. Bruna explica que a placenta foi programada geneticamente para existir em um ambiente de deficiência glicêmica. “Há milhares de anos, quando essas funções metabólicas foram estabelecidas, o ser humano vivia em um contexto de escassez de carboidratos. Como uma ferramenta para compensar esses índices baixos de açúcar no sangue, a placenta passou a permitir um contato maior do feto com a glicose”, diz.
Por isso a médica obstetra afirma que o principal fator de risco para o diabetes gestacional é a própria gestação. “Quando o obstetra entende isso na prática clínica, ele compreende que todas as gestantes atendidas por ele possuem o potencial para desenvolver essa alteração metabólica”, declara. São fatores que também influem no desenvolvimento do diabetes mellitus gestacional, a história familiar, o sobrepeso/obesidade, a dieta ocidentalizada, a idade materna avançada, o excesso de macronutrientes e deficiência de micronutrientes.
Devido a incidência considerável de fatores relacionados ao estilo de vida no desenvolvimento do diabetes mellitus gestacional, dra. Bruna enfatiza que o tratamento adequado para doença passa por dieta ajustada e atividade física. No que diz respeito à dieta, a médica obstetra afirma que se deve evitar o consumo excessivo de carboidratos, destacando que quanto mais perto estiver o parto, maiores têm que ser os cuidados maternos com a alimentação, já que o controle metabólico da hiperglicemia é cada vez menor nesse estágio.
Para justificar a recomendação de atividade física, a médica obstetra lança mão de uma meta-análise publicada em 2023. No trabalho, que inclui mais de 20 estudos randomizados, em mais de 7600 mulheres, foi demonstrado que atividade física supervisionada reduz a incidência de diabetes mellitus na gestação.
“Resultado que corrobora o que digo de forma repetida: o profissional responsável pelo acompanhamento pré-natal deve ser um grande incentivador da prática de atividade física durante a gestação e não deve ser um prescritor de repouso”, afirma.