Neste domingo, conheceremos os vencedores do Oscar 2023. Como espectadora apaixonada, acredito que a disputa promete ser uma briga boa em várias categorias. A que mais me chamou atenção este ano é a de melhor ator: foi um ano de atuações magistrais. Porém, um trabalho em especial me salta aos olhos. Brendan Fraser está arrebatador em “A Baleia”, dirigido por Darren Aronofsky.
Não é a primeira vez que o americano Aronofsky nos deixa arrebatados na cadeira do cinema. Em “Cisne Negro” (2010), e ainda mais com “Réquiem para um sonho” (2000), o diretor explorou lados obscuros e ao mesmo tempo frágeis dos personagens. Absolutamente humanos.
Se em “Réquiem” Aronofsky fez um tratado perturbador, até hoje uma referência cinematográfica, sobre diferentes processos de dependência em substâncias psicoativas (de remédios para emagrecer à heroína), agora em “A Baleia” o criador se debruça sobre a compulsão alimentar. O filme, baseado na peça homônima de Samuel Hunter, conta a história de Charlie, um professor de inglês com obesidade mórbida. Recluso em seu apartamento – sim, por razões físicas, mas também emocionais – ele tenta se reconectar com a temperamental filha adolescente, de quem o pai se afastou quando a moça ainda era criança.
No caso do personagem, a obesidade se instalou quando ele sofre o trauma da perda de um grande amor. Qualquer crise vital – divórcio, perda de emprego, morte de alguém querido – pode desencadear transtornos mentais, como a depressão, que podem levar a quadros de compulsão alimentar. De acordo com dados do National Institute of Mental Health, um em cada cinco adultos experimenta algum transtorno mental durante a vida. Outros estudos apontam que entre os indivíduos que tem transtorno de humor ou de ansiedade, 11% tem também compulsão alimentar.
Diante de números tão expressivos, a responsabilidade para interpretar Charlie era grande e Brendan Fraser fez a sua parte. Ele entrou em contato com o Obesity Action Coalition, nos Estados Unidos. Ele conversou com algumas pessoas sobre suas histórias via Zoom — algumas delas viviam sobre a cama. Em entrevista ao The New York Times, o ator conta que pediu que elas descrevessem o que comiam durante um dia. “Elas me descreviam a situação do mesmo jeito que seria descrita por uma pessoa que bebe, uma pessoa que usa substâncias ou é viciada em sexo ou em jogo. A automedicação por meio da alimentação é algo que funciona mais ou menos da mesma maneira que esses comportamentos, um ciclo de risco, recompensa, risco, recompensa, e busca de prazer, e mais prazer”, definiu.
Fraser comparou a mecânica de adição, neurologicamente, ao que acontece com pessoas que têm outros vícios: como uma muleta em suas vidas. E foi categórico ao clamar por empatia. “Se pessoas como essas merecem sua simpatia, o mesmo vale para uma pessoa que tenha a temeridade de simplesmente existir em um corpo que é enorme”. É importante ressaltar que transtornos alimentares tem tratamento, a base de terapia e medicação.
Por toda a discussão que suscita com o filme, dentro e fora da tela, minha torcida este ano no Oscar vai para Brendan Fraser.